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9 de novembro de 2011

Cronica: Os que leem versus os que não leem



 Ninguém mais lê hoje em dia. Os que lêem gozam da cara dos que não o fazem. Os que lêem sabem que é melhor para eles que os outros não leiam, pois só assim é possível que haja hierarquia. Os que lêem acreditam pertencer a uma classe intelectual mais elevada do que os meros analfabetos funcionais.
    Os analfabetos funcionais, por sua vez, não lêem porque não acham bonito pertencer a camada intelectual. Os analfabetos funcionais não deixam de fumar para comprar livros, tampouco de assistir a novela para lê-los. Os analfabetos funcionais descobriram uma forma de acabar com os intelectuais de todo o país: vão colocar fogo em todas as bibliotecas.
    Os que lêem preparam-se para a guerra. Os que lêem não querem que os analfabetos funcionais leiam, por isso privatizaram as bibliotecas. Os que lêem se organizam para enfrentar o boicote dos analfabetos funcionais. Enquanto isso o país vive uma crise política – afinal, o Brasil é uma crise política!
    Os analfabetos funcionais compram gasolina nos postos que pertencem aos que lêem. Compram tudo e vão destruir a base da massa intelectual brasileira, o recinto do conhecimento: as bibliotecas.
    Os que lêem estão na biblioteca. Os analfabetos funcionais invadem-na e começam a espalhar gasolina. Os analfabetos funcionais estão fumando e jogam seus cigarros no chão, o fogo começa a se alastrar. Os analfabetos funcionais fogem. Os que lêem ficam.
    Os que lêem deixam os gibis queimarem, deixam os livros de receitas queimarem, deixam os livros de piadas queimarem, deixam os livros de auto-ajuda queimarem, tudo que consideram inútil eles deixam o fogo consumir. Já leram Jorge Amado, seus livros podem virar cinzas. Os livros de Graciliano Ramos? Já terminaram de ler, podem queimar a vontade. Os livros de poesias de Drummond? Já decoraram todas (e interpretaram), não será preciso preservá-los. E assim tudo vai desaparecendo, salvo poucos livros, o que resta são cinzas.
    Os analfabetos funcionais destroem as demais bibliotecas do país. Os que lêem ficam imensamente agradecidos porque os analfabetos funcionais tiraram-lhes um peso das costas. Agora, só os intelectuais conhecem Drummond, Jorge Amado, Graciliano Ramos e outros mais.
    Os analfabetos funcionais não sabiam (pois não liam), mas transformaram em cinzas as chances de tornarem-se intelectuais. Eles voltaram para casa e estão assistindo televisão.


A cronica foi escrita por: David Maxsuel Lima

Para lerem mais cronicas do autor visitem o siteComo se fosse cronica

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