O cisne bonito

Ele só nasceu bonito, isso não é pecado. Era um lindo cisne, o único de sua espécie, em um lago repleto de patos. O cisne tinha uma linda plumagem branca, era de longe o animal mais bonito daquele lugar aonde viviam apenas algumas dúzias de patos, poucas famílias de sapos gordos e escamosos e mais um punhado de animais: Raposas, lagartos, aves, aranhas e lagartos.

A floresta era uma coisa pobre e isolada, metade do ano era assolada por um clima úmido e tedioso, com preguiçosas nuvens cinzas no céu. A outra metade do ano era assolada pela neve e o gelo. Ali o inverno durava meio ano, e o sol aparecia poucas vezes, saindo timidamente de trás das nuvens, para voltar a se esconder atrás delas poucos dias depois.

Todos os animais estavam acostumados e conformados com o clima rigoroso ao qual viviam. Todos os anos muitos deles morriam de frio ou de fome, mas ninguém ligava muito para isso, era a seleção natural. Os mais fracos morriam os mais fortes... bem... viviam, embora aquilo não fosse uma vida muito agradável.

O cisne era o único que não aceitava aquela situação. Ele subia majestoso em cima de um galho que boiava no lago e lá fazia seus discursos.

- Não podemos viver assim. Isso não é vida. Se continuarmos assim todos iremos morrer. Devemos nós unir. Trabalhando em conjunto podemos transformar esta floresta em um lugar muito melhor para todos! Não somos patos, aranhas, sapos e aves... somos todos animais que vivem no mesmo lugar, comem da mesma comida, se banham no mesmo lago e respiram o mesmo ar!

Porem os animais se faziam de surdos aos discursos do cisne. “Quem ele pensa que é? Só porque é bonito e charmoso acha que pode começar a mandar em todos aqui” diziam os animais uns aos outros “Nós gostamos de como vivemos, se ele quer mudar que mude sozinho”.

Com o passar dos anos o cisne foi se tornando uma presença incomoda para todos da pequena comunidade. Ele estava tentando bagunçar tudo, mudar a ordem das coisas. Ele queria união. Mas como animais tão diferentes poderiam viver em harmonia? Se forem para serem unidos não haveriam patos, lagartos, aves e sapos. Haveria apenas aves, apenas sapos ou apenas lagartos. Se fossem para serem todos iguais deus não os teria feito diferente. Não haveria presa e predador, aves e peixes, fortes e fracos, não haveria nada disso, e todos seriam da mesma espécie.

A insatisfação contra o cisne se tornou geral. Ninguém mais o queria vivendo ali. Então um dia todos se reuniram e ordenaram que ele fosse embora, pois ali não era o seu lugar.

Obedecendo ao desejo de todos o cisne abriu suas asas e partiu, voando gracioso entre as nuvens. Talvez ali não fosse mesmo o seu lugar. Uma pena, ele se sentiu triste com isso, mas quem fora ainda mais prejudicado com sua partida foi aquela pobre comunidade que perdera sua única chance de se tornar enfim um lugar melhor.