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11 de setembro de 2012

Reflexões sobre o "fruto"


O mito do fruto proibido é extremamente cativante, e em um mundo predominantemente católico é quase impossível encontrar alguém que não conheça essa velha historia. Um conto antigo sim, mas que constantemente se repete e é contada e recontada por poetas, escritores e contadores de historias.

Já li muitos destes valiosos textos escritos por diversos escritores, cada um contando a sua maneira sua visão sobre este mito. Em uma dessas vezes li um cordel falando de forma cômica sobre o assunto. Em outra li um conto em que deus aparecia para um jovem na atualidade e dava a ele um segundo fruto proibido lhe dizendo que ele estaria maduro em quinze dias, e cabia a ele a escolha se devia come-lo ou não. Em outra ocasião li um conto interessante contando que Eva era o fruto proibido, e que Adão a comeu (fez sexo com ela!) e seria esse o motivo da expulsão dos dois do Éden. Os exemplos são inúmeros, e eu como escritor estou pronto a lançar mais uma moeda nesse profundo poço de historias, aqui vai minha visão sobre o "fruto".

Primeiro de tudo porque uma maça? Existem dezenas de frutas diferentes porque logo a maça foi eleita o fruto proibido? Alguns dizem ser um simples acaso, eu penso diferente.
Devemos lembrar que o mito de Adão e Eva tem uma grande semelhança com a mitologia nórdica, semelhança essa tão grande que acho difícil de acreditar que seja apenas coincidência. No mito existe no centro do jardim do Éden a arvore da vida, na mitologia nórdica existia a Yggdrasil, a arvore dos mundos, que sustentava em seus galhos os nove mundos. Adão e Eva nos fazem lembrar Lif e Lifthrasir o único casal de humanos a sobreviver ao ragnarok e que juntos repovoaram o mundo. A serpente traiçoeira que persuadi Eva pode ser compara a Jormungand a temível serpente do mundo, principal rival do deus nórdico Thor. Finalmente chegando ao fruto proibido ele também tem uma analogia forte com a mitologia nórdica. Segundo essa cultura os deuses permaneciam imortais por se alimentarem das maças da juventude, guardadas pela deusa Idunna. Todas essas semelhanças com as duas religiões se explicam pois durante a cristianização o clero achou que seria interessante criar o mito de Adão e Eva exatamente do mesmo ponto aonde os deuses nórdicos eram derrotados, depois do ragnarok. A religião dos nórdicos foi ficando de lado enquanto a nova religião se firmou.

Mas seguindo essa linha de raciocínio porque a maça, tão sagrada na mitologia nórdica ao ponto de ser o principal alimento dos deuses é transformado em um fruto proibido na religião cristã? Vamos explicar. A maça era o fruto que dava a imortalidade aos deuses, era em síntese o que os tornava divinos. Deus criou o jardim do Éden e em seu centro estava a arvore da vida que dava as maravilhosas maças. Ele alertou a seus filhos "Comam de tudo, exceto do fruto daquela arvore, pois ele é proibido". Adão e Eva não necessitavam do fruto para sobreviver, no jardim se encontrava uma variedade de frutos que poderiam saciar sua fome. Eles eram inocentes, e por isso não almejavam aquela maça, mas o veneno de uma serpente os preencheria de cobiça e ambição, e isso os levaria a ruína.

A serpente persuadiu Eva a comer o fruto, e esta iludida o comeu e ofereceu-o a Adão que também provou o seu gosto. Morder o fruto proibido é um ato mortal, ao come-lo o humano almeja alcançar o divino, ele tenta se igualar a deus, e ao velo como um igual e não mais um superior ele não mais o respeita e nem o obedece.

Foi por mordemos o fruto que aprendemos o assassinato. Nos achamos no direito de tirar outras vidas quando este direito cabe apenas a deus. Nos reclamamos o direito de destruir a energia nutridora do planeta, sugamos o leite materno do seio da mãe terra. Secamos os rios, derrubamos as arvores, dizimamos a fauna e a flora em nome do "progresso".
Todos nós em diversas partes de nossa vida somos apresentados a maça. Nós temos uma escolha, sabemos as consequências que a mordida no fruto nos custara e mesmo assim a mordemos. A mordemos com gosto, como animais famintos que anseiam desesperadamente por alimento quando na verdade não o precisamos. Em muitos casos nós nem precisamos de uma serpente para nos induzir, nem é necessário, seu veneno já esta em nossa corrente sanguínea, passado de geração em geração desde os tempos de Adão.

Porque mordemos a maçã? Como Adão e Eva não precisamos dele. Temos uma variedade de frutas em nosso jardim. Mas... a maça é tão apetitosa, tão vermelha e suculenta que não resistimos a seu aroma. Vale ressaltar aqui a simbologia da cor vermelha. Ela é a cor da sensualidade e da tentação, o vermelho é a cor do pecado e do sangue, é uma cor que alerta o perigoso e proibido e exatamente por isso ela é tão irresistivelmente tentadora.
A imagem da maça se tornou tão forte que a vemos com muita frequência nos contos de fadas. Em "A branca de neve" a jovem princesa é tentada por uma velha bruxa (uma das facetas da serpente traiçoeira) e por isso come uma maça envenenada que a mergulha em um sono profundo. Seguindo uma linha de raciocínio semelhante podemos falar novamente do poder do vermelho. No conto "Os sapatinhos vermelhos" não tão difundido aqui no Brasil, a protagonista fica encantada por um par de lindos sapatos vermelhos. Quando os calça ela começa a dançar freneticamente sem conseguir controlar suas pernas. Ela estava condenada a dançar ate a morte mas é salva pois conseguem tirar-lhe os diabólicos sapatos. Em uma versão mais antiga da historia a garota tem seus pés cortados para se ver livre da maldição.

Em síntese a maça proibida é o próprio poder, é a essência divina. Nós podemos nos unir a essa essência, entrando em sincronia com deus, aceitando-o (me refiro a qualquer deus, não necessariamente ao do cristianismo). Em minha opinião o estado divino é um humano, mas um humano "perfeito", como uma evolução. É preciso estar preparado para morder o fruto, e a humanidade definitivamente não esta.


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