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12 de maio de 2013

Anel de noivado




Ricardo olhou mais uma vez para a foto dele e de Clarissa juntos. Os dois sorriam como se congelados naquele momento de felicidade. Fora isso que a foto capturou, a felicidade dos dois naquela manha ensolarada de julho. Juntos na Praça da afeição no seu aniversario de um ano de namoro.

Ele ficou ali como idiota sorrindo como um bobo para a foto, naquela noite iria pedi-la em casamento, e ela ia aceita, ela tinha que aceitar, pois eles se amavam e se havia amor o que mais lhes faltava? Eles se amavam, iram se casar e teriam muitos filhos. Dois para ele era o ideal. Dois meninos? Era isso que ele esperava, mas ficaria igualmente feliz se nascecem apenas meninas.

O barulho das buzinas o despertou de seus delirios e sonhos. O som caotico e a sinfonia desarmoniosa do transito e os xingamentos dos motoristas o trouxeram de volta a realidade. Ricardo viu que o sinal já voltara a ficar verde, quando mudara? Isso não importava, ele passou a primeira marcha e acelerou.

Ele já havia planejado tudo, o anel de noivado que compraria seria de ouro branco como ela gostava. Clarissa adorava ouro branco, todas suas joias, das mais simples as mais complexas, eram feito desse material. Tudo que faltava era sacar o dinheiro no banco, pois ligara para a loja mais cedo e o vendedor dissera que a maquina de cartões estava quebrada e so aceitariam pagamento em dinheiro.

Ele estava atrasado, logo teria que ir ao medico com a máe, as dezesseis horas, e amanha era o aniversario de sete anos de namoro com Clarissa, queria dar o anel e propo-la em casamento nesse dia, seria o ideal, e se perdesse a chance não aguentaria ter que esperar mais um ano para fazer o pedido. Além do mais sete é um numero especial pensou Ricardo, haviam sete mares, sete cores do arcoiris, sete dias da semana, ele podia não saber bem o porque daquilo, mas com certeza era um numero especial.

Ricardo dobrou a esquina indo ate o banco, sorria feliz, pensando na reação de Clarissa ao ver o anel, seu sorriso se apagou quando viu o estacionamento. Lotado, é ele sempre estava lotado, mas naquele dia aquilo o irritou mais do que de costume. Ele resolveu dar a volta no quarteirão, alguem poderia estar saindo do banco em breve, e assim deixaria uma vaga livre.

Deu a volta com pressa e impaciencia. Um motorista o cortou e Ricardo o xingou com um palavrão qualquer. O seu dia maravilhoso estava começando a se tornar um grande inconviniente. Calma, respire fundo disse a si mesmo, era um dia importante não podia se irritar a toa. Amanha estaria noivo e Clarissa com um anel de ouro branco no dedo.

Quando deu a volta no quarteirão e voltou ao banco viu que um carro começava a sair de uma das vagas. Ele sorriu, era uma vaga de deficiente, mas não importava, seria rapido ali, não demoraria. Dez talvez apenas cinco minutos, quais seriam as probabilidades de um cadeirante surgir ali naquele espaço de tempo? Pequenas, bem pequenas era mais facil ele ganhar na loteria do que auqilo acontecer.

Estacionou o carro, desceu. Foi ate um caixa eletronico, inseriu o cartão, colocou as senha... "dados incorretos" a maquina lhe devolveu essa mensagem como se zombasse dele. Ele bufou irritado, xingou baixinho com raiva. As pessoas o olharam, uma criança riu, a mãe do menino o lançou um olhar de reprovação e uma velha gorda lhe dissera para ter educação. É ele não havia xingado tão baixo quanto pensara, mas naquele momento a ira o subiu pela garganta e ele teve que se controlar para não responder a velha que mais parecia um sapo gigante enfiada em uma blusa azul marinho apertada demais para ela.

Respirou fundo, ignorou a velha e tentou colocar as ideias no lugar. Qual era mesmo a senha? 2714? Ele tinha certeza que sim, mas a maquina lhe dissera de forma fria que não. Talvez tivesse digitado um numero errado sem querer, tinha certeza que a senha era essa.

Tentou novamente "dados incorretos" respondeu novamente a maquina. Ele suspirou, tinha a senha anotada em algum lugar.. procurou na pasta, a abriu, eram muitos papeis que tinham ali, e ele se atrapalhou. Estava nervoso e o stresse ja o dominava como um veneno que se espalha pelo corpo. Ouviu as vozes das pessoas na fila reclamando de sua demora, um moça reclamou para o homem que estava atras e este respondeu que tinha compromisso e por causa de "gente como ele" chegaria atrasado.

Ricardo ignorou a vontade de esganar os dois. Achou o papel que anotara a senha, era 2712, não 2714. Ele repetiu novamente o processo, colocou o cartão, esperou a maquina ler e então a tela para se digitar a senha surgiu. Ricardo já estava com os nervos a flor da pele, começou a digitar apressado, pois já não suportava mais ficar ali com aquelas pessoas o repreendendo com olhares, como se eu tivesse que dar alguma satisfação a eles, se eu quiser demorar eu demoro e pono final! Quando apertou o botão de confirmar veio a mensagem mais uma vez "dados incorretos". Merda! Digitara algo errado?! Estava com tanta pressa que só podia ser isso. A maquina não parou por ai, logo exibiu a mensagem seguinte com prazer "cartão bloqueado" se maquinas sorrisem, aquela sorria com escarnio para ele.

Ele soltou um palavrão. Agora alto, e bateu com força na maquina. Um segurança foi ate ele e lhe repreendeu. Dissee para ele se controlar ou seria "convidado" a sair do banco. Ricardo tinha a resposta na ponta da lingua, iria dizer umas coisas para aquele arrogante. No ultimo momento porem se lembrou do anel. Não, não era bom criar mais problemas, iria se casar... era um bom dia... calma, clama. Não conseguiu ficar calmo, mas conseguiu evitar uma resposta dura ao segurança. Bufando ele ignorou o guarda e foi falar com um dos gerentes do banco para solicitar o desbloqueio do cartão.

Perdeu vinte minutos na fila esperando para ser atendido. Teve que ligar para mãe dizendo que não poderia ir ao medico. Depois ligou para o escritorio do medico, o doutor Cardoso, e disse que não poderia comparecer a consulta. Uma moça atendeu, a secretaria, Jeane, ou Jina, algo do tipo... ela disse com sua voz monotona que os cancelamentos só poderiam ser realizados se avisados com 24 horas de antecedencia. O resultado seria que ele teria que pagar a consulta, mesmo não indo. Xingou a Jeane (Ou Jina) usando um leque de nomes diferentes, nenhum deles nem um pouco gentil. Disse também que o doutor Cardoso era um profissional nada flexivel e que não iria mais marcar a consulta com ele. Nunca mais.

Saiu do banco com o dinheiro do anel, mas sem paciencia nem bom humor. Andava a passos firmes na direção do seu carro quando viu um homem de uns trinta anos e um senhor cadeirante ao seu lado.
- Essa vaga é de deficiente! - gtitou o homem - estou atrasado para ir ao aeroporto e vou perder o voo, mas não posso estacionar porque um sem carater como você estaciona na vaga destinada ao meu pai!!
- Eu vou tirar a droga do carro quando eu quiser!!! - respondeu erguendo as mãos com extravassando toda sua raiva contra o doutor Cardoso, Jeane e a maldita maquina safica. 
O homem se adiantou dois passos e o encarou com raiva e indignação.
- Olhe como fala! Não estou de pedindo favor nenhum, esta na lei! - disse apontando para o desenho no chão que marcava a vaga como dos deficientes - eu estou com a razão aqui, se você fosse um pouco humilde reconheceria isso!

Aquilo foi a gota d´agua. Ricardo empurrou o homem com força que caiu no chão. Quando caiu bateu na cadeira de rodas de seu pai e os dois foram ao chão juntos. O velho gemeu, seu corpo tombou ficando extendido impotente.Ricardo empalideceu, não queria ter machucado o velho! O que havia feito? Estava de cabeça quente, não deveria ter agido assim, não podia ter machucado ao senhor, na verdade nem ao seu filho, eles tinham razão. Ele se aproximou para ajudar o senhor a se levantar, mas depois que dera apenas dois passos, o homem sacou um revolver temendo outro ataque e deu cinco tiros em Ricardo. Ele morreu antes mesmo que seu corpo tocasse o chão.


A noite, Clarissa assistia ao jornal das nove no sofa. A jornalista comentava rapidamente o de sempre, mortes, batidas de transito, assassinatos, juizes corruptos e padres pedofilos. Entre o vai e vem de desgraças diarias ela comentou que um homem fora morto na saida de um banco apos agredir outro homem e seu pai cadeirante. A briga se originou porque o agressor havia estacionado na vaga destinada aos cadeirantes. Uma mera banalidade.
- Coitado morreu só por isso... - comentou Claudia, irma de Clarissa que passava por acaso pela sala e ouvira apenas aquela noticia.
- Coitado nada - respondeu Clarissa comendo um pão de queijo. Estava com um prato cheio deles no colo - gente assim não respeita ninguem. Coitado do outro que com certeza vai ser preso... tava apenas tentando se defender e ao pai... - disse indignada, e depois comeu mais um pão de queijo. Vinte minutos depois o jornal acabou e ela e a irmã assistiram entretidas a novela das dez.

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